O Dia Nacional do Vietnã é comemorado em 02 de setembro. Em razão disso no último dia dois, foi comemorado o aniversário de 77 anos da independência do país localizado no sudeste asiático. Apesar de muitas pessoas ligarem o país com a guerra ocorrida durante o período da guerra fria e consequentemente à aniquilação de milhares de vidas, atualmente não é mais assim. Hoje o Vietnã, segundo o último relatório do Banco Mundial, divulgado no mês de abril de 2022, o país é descrito como um caso de sucesso de desenvolvimento. Segundo o mesmo relatório, o Vietnã passou de país símbolo de guerra para um pequeno emergente asiático tendo sido um dos raros países a crescer o PIB em 2020, durante a pandemia de covid-19.
Lá, o povo vietnamita provou resiliência a várias crises, inclusive no período sombrio da guerra, isso se deu talvez em razão do estoicismo oriental. Agora vamos deixar o país asiático “em paz”, copiando dele apenas a resiliência a ser aplicada aqui no lado ocidental do mundo, em especial nesse país de “meu deus”. Bom seria se não cometêssemos o mesmo erro dos vietnamitas, que por questões ideológicas, partiram o país ao meio entre comunistas e capitalistas no que resultou em um sangrento conflito com mais de 3 milhões de mortes. Do lado de cá temos presenciado, desde muito tempo, conflitos dos mais diversos, dentre eles, a intolerância religiosa, de sexo, contra animais; o desrespeito as instituições constituídas democraticamente; bem como a polarização política que tem levado nosso país a viver “dias de guerra”. Fico a pensar, o que leva uma pessoa em são consciência a cometer um atentado contra um líder religioso, chegando ao extremo de matá-lo. Da mesma forma ocorre contra aqueles que possuem opção sexual divergente dos que os atacam.
Temos vivido dias de total intolerância, inclusive com os animais. Em que pese eu não ser adepto em beijar e abraçar cão e gato, abomino quem deixa-os passar fome, joga água quente ou arremessa-os de viadutos. Que o anjo Ariel tenha piedade desses “animais racionais”! Se os animais sofrem, o que dizer as instituições constituídas democraticamente que vêm de uns tempos para cá sendo alvo de pseudos cidadãos que querem a todo custo a “cabeça” dessas instituições. O curioso é que os que atacam são os mesmos que já precisaram ou precisarão dessas instituições. No campo da política, a guerra “a lá vietcongues” existe desde que o mundo é mundo. Ou quem não se lembra de algum presidente da república assassinado, ou esfaqueado? Mais sorte teve recentemente a vice-presidente argentina quando uma arma disparada contra sua cabeça não teve as balas deflagradas.
Tudo isso que estamos vivendo seja os ataques as instituições ou as facadas e tentativas de assassinatos são reflexos da polarização, a meu ver, doentia na política. Em um ambiente polarizado como o nosso, não há tolerância e muito menos respeito para com opiniões discordantes. Impera, neste caso, a lealdade. Ou quem não se lembra que a pouco tempo atrás não éramos adeptos do patriotismo?
Mas agora, se exibirmos a Bandeira Nacional ou cantarmos o Hino olhando para a mesma bandeira somos tachados de leais a determinado mandatário. Se essa tendência continuar, nosso País estará fadado ao insucesso. Isso porque, o grande dilema é que a tal da lealdade, quando levada ao pé da letra, força o simpatizante em renunciar à própria individualidade para aceitar as regras, crenças e ideias dos grupos antagônicos. O Jornal Estadão visando despertar o exercício de liberdade do voto publicou editorial alertando de que nada obriga o eleitor a limitar sua escolha entre duas opções ruins, que despertam grandes e fundados temores. Acrescento ainda, que para a eleição presidencial são 11 os candidatos dispostos a mudar os rumos do Brasil e que a polarização entre os dois principais postulantes ao cargo só acirra a tensão em nosso País.
Os leais polarizados esquecem ou nem ouvem as propostas dos outros 9 postulantes, pois vivem no afã de que existem apenas o céu e o inferno. Os correligionários da lealdade deveriam saber que os erros de um candidato não tornam o outro uma boa solução para o Brasil. Por tudo isso, é imprescindível que não cometamos o mesmo erro do Vietnã, dividido entre Hanói e Saigon. Se bem que ele é jovem, com apenas 77 anos de independência, tem muito o que aprender. Por outro lado, rogo para que o bicentenário da nossa independência possa transformar nosso povo e principalmente nossos governantes em seres resilientes tal qual o povo vietnamita. Caso esse meu desejo não aconteça estaremos próximos da subversão democrática descrita no livro “Como as democracias morrem”.
Claiton Cavalcante é contador
Fonte: gazetadigital
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