Aloisio Rodrigues da Silva – Presidente da AMACIC
Como iniciou nesta área e quais foram os mais relevantes aprendizados que a Contabilidade lhe proporcionou até os dias atuais?
Costumo dizer que a Contabilidade entrou por acaso na minha vida pessoal e profissional.
Meu desejo inicial era cursar eletrotécnica no ensino médio para no futuro estudar Engenharia Elétrica no ensino superior e já estava tudo dando certo, pois já tinha passado no exame da Escola Técnica Federal em Cuiabá (MT) para fazer o segundo grau em Eletrotécnica.
Na época eu trabalhava como auxiliar administrativo numa empresa de seguro de vida, que se denominava: Círculo dos Oficiais Intendentes das Forças Armadas (Coifa) e por esta fui convidado para assumir a gerência de um escritório que estaria sendo aberto em Campo Grande (MS).
Aceita a proposta, deixei de fazer a minha matrícula no curso referido, eis que, dias depois de ter perdido a matrícula, veio a notícia que a empresa não mais abriria o escritório naquela cidade.
Consequência, perdi a vaga na Escola Técnica Federal e não encontrei vaga para o curso científico nas escolas públicas de Cuiabá.
Foi então que, por meio do Padre Antônio (pároco da Igreja de São Gonçalo) na qual eu era coroinha, consegui uma vaga e bolsa integral para estudar o primeiro ano do curso Técnico em Contabilidade.
Nesse curso cada aluno recebeu uma pasta que se denominava “Escritório Modelo”.
No primeiro mês de aula, devorei aqueles documentos e lançamentos fiscais e contábeis que compunham aquela pasta, lógico, com base no livro ‘Estante do Contador de Carlos de Carvalho’ e passei ao meu Prof. Altamiro Reis Barbosa para ele corrigir as atividades previstas.
Para a minha surpresa, na aula seguinte ele me nomeou como seu monitor.
A partir desse momento, nasceu a paixão e o brilho nos olhos pelas Ciências Contábeis e pela docência.
Entender a importância do aprendizado contínuo e exercer a profissão em compliance com os princípios éticos relevantes devem ser ações prioritárias de todo profissional da contabilidade.
Estes são os maiores legados que a Contabilidade me proporcionou até os dias atuais.
Neste início de mandato, como presidente na Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (Amacic), quais são os principais objetivos e ações?
Dirigir a Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (Amacic), na condição de seu presidente, é uma Dádiva Divina. Sou membro fundador da Amacic e, desde a sua fundação, desempenhei, por três mandatos a função de vice-presidente.
Nesta gestão, entre outros, temos como objetivos: intensificar e incentivar a produção científica por meio da criação de grupos de pesquisas envolvendo nossos acadêmicos e as universidades e faculdades de Ciências Contábeis que atuam em Mato Grosso. Outra ação que entendemos fundamental é o alcance da meta de 100 (cem) associados na Amacic.
Além disso, procuraremos melhor aproveitar o potencial de conhecimentos de nossos associados a fim de implementara educação profissional continuada para os profissionais da contabilidade.
Tratando das transformações na área contábil, principalmente após (e durante) a pandemia que estamos enfrentando, como fica o cenário da profissão contábil na sua opinião?
A profissão contábil, desde o seu surgimento há milhares de anos, vem demonstrando a sua essencialidade irrefutável e reconhecidamente consistente ao acompanhar as mudanças ocorridas, ao longo do tempo, nos cenários econômicos, político e social.
Uma prova viva de tudo isso é desempenho dos profissionais da contabilidade neste período em que o mundo ainda vive os percalços da pandemia provocada pelo coronavírus.
Diante desse cenário de insegurança, e porque não dizer de medo, a profissão contábil não parou, respondendo com integridade, zelo e competência profissional aos compromissos de agir em defesa da sociedade e da saúde financeira das organizações publicas e privadas.
Dessa forma, contribui, decisivamente, na estabilidade econômica dos países.
Na sua visão, como está o desenvolvimento profissional da classe contábil de Mato Grosso e quais são as principais tendências no âmbito do aprimoramento acadêmico da área contábil nacional?
Mato Grosso tem sua economia essencialmente caracterizada pelas atividades produtivas centradas no agronegócio, que também foi uma das áreas da economia que não parou seu processo produtivo ao longo desses anos de pandemia.
A diversificação da produção, o crescimento em tamanho e complexidade do processo produtivo, os rápidos avanços tecnológicos, em todos os segmentos econômicos, vêm exigindo o aprimoramento contínuo dos profissionais da contabilidade para que possam atender os usuários com informações relevantes para as tomadas de decisões operacionais, de investimentos e financiamentos.
Essas assertivas também norteiam as necessidades de aprimoramentos nas políticas pedagógicas dos cursos de Ciências Contábeis no Estado de Mato Grosso e, também, em âmbito nacional.
O aprimoramento da formação teórica e prática é fundamental para o desenvolvimento da profissão contábil, e a busca de uma matriz curricular que possibilite a formação de contadores/ consultores deve ser prioridade no meio acadêmico e profissional.
RELATO INTEGRADO: RELEVÂNCIA NA GERAÇÃO DE VALOR
A Contabilidade é a linguagem dos negócios. Em uma visão de longo prazo, as principais práticas de negócios nos setores público e privado vislumbram para um cenário cada vez mais competitivo em que o pensamento integrado aponta para a adoção de uma nova tecnologia que permita a alocação eficiente e produtiva de capital de modo a promover a estabilidade financeira e a sustentabilidade dos negócios das organizações.
O Conselho Federal de Contabilidade, por meio de seu Plenário, em 2020, aprovou o CTG 09, que trata sobre a Correlação à Estrutura Conceitual Básica do Relato Integrado enquanto metodologia baseada no pensamento integrado que dá sustentação à integração e correlação de informações de natureza financeira e não financeira que visa mostrar aos stakeholders como dá a geração de valor, isto é, aumentos, reduções ou transformações de capitais, originados pelos negócios e produtos de uma entidade.
Entende-se que a Contabilidade, por meio de seus atores, deve assumir o protagonismo na implementação desta nova tecnologia de comunicação e evidenciação, bem como se responsabilizar pela asseguração das informações divulgadas no relato integrado e relatório de sustentabilidade.
Essas novas tecnologias, além de serem caminhos sem volta, se apresentam como oportunidades para contadores e auditores independentes.
Além disso, constituem campos férteis para o desenvolvimento de investigações científicas por parte de professores e pesquisadores rumo ao desenvolvimento das Ciências Contábeis e consolidação da Contabilidade enquanto sistema de informação.
Dentre os objetivos essenciais do Relato Integrado se destacam:
(1) melhorar a qualidade da informação disponibilizada aos provedores de capital financeira o que assegura a alocação de recursos com mais eficiência e produtividade;
(2) promover a coesão e eficiência do relato corporativo mediante o aproveitamento das várias vertentes de relato e auxilie na comunicação e evidenciação dos fatores que impactam substancialmente a capacidade da organização gerar valor ao longo do tempo; e
(3) aperfeiçoar a prestação de contas e destacar a responsabilidade pela boa gestão de capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, de relacionamento e natural) e discernir suas interdependências.
Sete são os princípios de orientação para a elaboração do Relato Integrado quais sejam:
(a) foco estratégico e orientação para o futuro;
(b) conectividade das informações;
(c) relação com as stakeholders;
(d) materialidade;
(e) concisão;
(f) confiabilidade e completude; e
(g) uniformidade e comparabilidade.
Ressalta-se que à elaboração do Relato Integrado esses princípios podem ser aplicados individualmente e/ou coletivamente, exigindo, portanto, o emprego de julgamento profissional sempre que houver algum tipo de conflito entre eles.
A consecução dos objetivos e o emprego adequado dos princípios de orientação do Relato Integrado exige que o profissional da contabilidade responsável por sua elaboração deve obter uma visão geral da entidade e de seu ambiente externo e, além disso, conhecer o comprometimento de sua governança, os modelos de negócios, identificando-se os riscos e oportunidades, suas estratégias de alocação de recursos, desempenho e perspectivas futuras.
Assim, pode-se inferir que dominar a tecnologia do Relato Integrado é mais um dos diversos fatores que ressalta a essencialidade da Contabilidade moderna, bem como assegurar a longa perenidade das Ciências Contábeis, para o mundo dos negócios e a continuidade de sua atuação em defesa da sociedade e estabilidade econômica.
ISSN: 2357/7428
Fonte: abracicon.org
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