Cadeira Nº 43
CRCMT – Conselheira do Conselho Regional de Contabilidade nos anos de 1974 a 1977. “Zunzum, zunzum, zunzum / Tá faltando um (bis) / Bateu asas foi embora / desapareceu! / Nós vamos sair sem ele / Foi a ordem que ele deu / Zunzum, zunzum, zunzum / Tá faltando um (bis).”
A letra acima lembra um carnavalesco carioca, que faleceu um mês antes do Carnaval; ele era compositor, sambista e um devoto às festas do Rei Momo, saindo à frente do seu bloco.
Os que acompanhavam o referido bloco, temiam pelo seu arrefecimento, mas isso não aconteceu porque, mesmo sem ele, o bloco iria sair, cantando a música especialmente composta para justificar aquela alegria, em pleno luto.
Essa analogia me vem à memória para lembrar a data de 25 de julho, dia do aniversário da minha prima Enir Duarte – Ninita na intimidade -, contadora que muito trabalhou na área contábil. Nessa data estávamos sempre reunidas em sua casa, num agradável encontro cuiabano, regado a bolos de queijo e de arroz, acompanhados do incomparável “guaraná espumante” – como identificávamos o refrigerante da “Antártica” -, para diferenciá-lo do guaraná ralado, do nosso desjejum.
Enir Duarte – a nossa Ninita – nasceu em 25/07/1928, na Villa do Santo Antônio do Rio Abaixo, hoje Santo Antônio de Leverger, cidade do Estado de Mato Grosso. Filha de Acyndino Pinto Duarte (meu tio) e Benedicta Januária Duarte.
Fez o curso primário na escola “Leônidas de Mattos”, tendo como professora a competente e respeitada Horminda Pitaluga de Moura. Em seguida, deslocou-se para Cuiabá, a fim de fazer o Exame de Admissão ao Ginásio, como aluna da Professora Ana Leite de Figueiredo.
A escola do interior, lecionada por normalistas mato-grossenses que deixavam a capital para combater o analfabetismo – bandeirantes do século XX, no meu entender – falava a mesma linguagem da Escola Modelo Barão de Melgaço, da capital do Estado de Mato Grosso. Daí porque a aluna Enir Duarte (Ninita), vindo da Villa de Santo Antônio do Rio Abaixo, classificou-se em 8º (oitavo) lugar, concorrendo com os alunos de Cuiabá.
Na década de 30 (trinta), não se admitia moça morar em pensão ou hotel, por isso, a nossa homenageada Enir Duarte, ficava na casa dos parentes e, com a família dos meus pais, fez o curso ginasial no belíssimo Colégio Estadual de Mato Grosso, hoje, Liceu Cuiabano Dona Maria de Arruda Muller e o curso de contabilidade na Escola Técnica de Contabilidade de Cuiabá. Sua turma foi a última que recebeu o diploma de Contador; daí para frente, as matérias foram alteradas e o curso passou a fornecer o título de 2º grau, ou seja, o de Técnico em Contabilidade.
O terceiro grau – que se faz nas faculdades – fornece o grau de Contador aos alunos interessados pela área contábil.
A profissão atraía somente os homens; as mulheres eram direcionadas para a Escola Normal Pedro Celestino, de Cuiabá.
Atualmente a profissão contábil passou a ter grande concorrência de mulheres. No governo da presidente Dilma Rouseff, ela oficializou o título de Contadora, no feminino, para todas as profissões que, antigamente, eram taxadas no masculino, somente.
O ganha-pão da Enir Duarte foi a contabilidade; a prática foi obtida na tradicional Casa Gabriel de Mattos, sob a orientação do contador Antônio Bastos.
Em seguida, abriu seu próprio escritório, onde prestou muitos serviços a pequenas, médias e grandes empresas, destacando-se o supermercado Moryta, com duas sedes: uma, em frente ao Jardim Ypiranga; outra, em frente ao 9º BEC – Batalhão de Engenharia de Construção.
Tentou o serviço público, concorrendo a uma vaga de contadora, na LBA – Legião Brasileira de Assistência, onde trabalhou sob a direção de Dona Maria Elisa Bocaiuva Corrêa da Costa, esposa do ex-governador, Dr. Fernando Corrêa da Costa. Não permaneceu na LBA, pela arraigada política entre o PSD e a UDN – Partido Social democrático e União Democrática Nacional, respectivamente. Só permanecia no cargo quem fosse da situação.
Posteriormente, concorreu a uma vaga para fiscal federal da Previdência Social, sendo a única mulher aprovada. Não assumiu a vaga porque foi lotada em Corumbá, ainda interior de Mato Grosso uno há 40 anos (cinquenta) anos, o preconceito pesava sobre mulher solteira morar fora da companhia dos pais. Assim a contadora Enir Duarte perdeu a excelente oportunidade de se aposentar melhor.
Permaneceu em seu escritório, com simples instalação, mas verdadeira escola prática de contabilidade, onde muitos aprenderam e puderam galgar postos importantes no serviço público, nas escolas, nas universidades, como professor, auditor, etc., como presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de Mato Grosso, cuja prática foi obtida no escritório de contabilidade da contadora Enir Duarte.
Quando tudo era escriturado manualmente, a contadora Enir Duarte tinha calo nos dedos, de tanto escrever! Com boa caligrafia, ela ganhou elogio, por escrito, do competente fiscal federal Francisco do Amaral Militão, no livro “Diário”, da casa “Real Modas”, sob a direção da família japonesa “Gushiken”; a Haruko, uma batalhadora da casa de modas, está entre nós para confirmar, permanecendo como sua cliente na declaração anual do Imposto de Rendas – IR.
Em plena labuta imposta pelo leão, faleceu a contadora Enir Duarte, em 06/03/17, antevéspera do “Dia da Mulher”, vítima de problema cardíaco (infarto), quando já se aprontava para a árdua missão do contabilista, que trabalha com leis municipal, estadual, federal e, ainda, obedecendo a prazos.
Eu sempre estava em contato com ela, apoiando-me na sua ótima memória, para relembrar fatos e letras de música que, juntas, contávamos, tanto é que pretendo ser herdeira do seu caderno de músicas da nossa época.
Enir Duarte (Ninita) estava com 88 anos e tinha ótima cabeça, prestou muitos serviços na área contábil e, neste 25/07/17, faria 89 anos. Perdemos o encontro anual do seu aniversário porque “está faltando um” no bloco da nossa amizade e parentesco. Meus votos que se encontre com São Matheus, Contador do céu, para valorizar a nossa profissão. (Nilza Queiroz Freire, contadora, CRC-MT 631/0-2, Cuiabá-MT, 25-07-17.)
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