Texto externo:
Há quem diga que mora em Mato Grosso. De outra parte, há também quem diga que mora no Mato Grosso. Afinal, qual é a forma certa? Quer de fato saber? Leia o texto do professor Germano e se certifique da forma correta.
Dicas do Professor Germano
Moro em Mato Grosso
ou
Moro no Mato Grosso?
O correto é: Moro em Mato Grosso. O nome de nosso Estado não aceita a anteposição do artigo.
Texto Interno:
Sou de Mato Grosso ou do Mato Grosso
Há bem tempo, produzi artigo substancioso – a modéstia parece não me ser companheira – alusivo a este tema. Assim o intitulei: moro em Mato Grosso ou no Mato Grosso. Em algumas passagens desta coluna, dele me socorro.
O Brasil encerra vinte e seis estados. Enquanto a maioria exige artigo – quinze deles –, um grupo menor passa a dispensá-lo categoricamente.
A velha e sempre atual didática nos brinda com um princípio sábio: ao confrontar dois grupos distintos, procure de pronto familiarizar-se com o menor. O outro, você o obtém por exclusão. Daí por que vamos centrar nossa atenção na lista dos estados – dez ao todo – que não aceitam artigo.
No mais das vezes, Alagoas integra a relação do grupo sem artigo, trilha que percorrem os dicionaristas. Vá ao verbete alagoano e comprove: natural de Alagoas. Se bem assim, posso empregar o nome desse estado também articulado. É o que fez o inigualável Machado de Assis, em Quincas Borba: “casara com um bacharel das Alagoas…”.
Atrevo-me a propor uma frase mnemônica para facilitar a pronta identificação dos estados que não usam artigo:
MATOS, ROGO A SANTA PERMISSÃO DO SER.
Vamos esmiuçá-la. A palavra matos funde os dois estados vizinhos, irmanados pelo nome: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A eles se juntam Roraima, Rondônia e Goiás (rogo). Em seguida Santa Catarina (santa). Logo depois Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo (permissão). Fechando o grupo, Sergipe (ser).
Está isso a significar que, ao me referir ao Estado de Mato Grosso, devo empregá-lo sempre sem artigo: Sou de Mato Grosso. Vou a Mato Grosso. Fui para Mato Grosso. Estive em Mato Grosso.
Qualquer seja o contexto, use Mato Grosso despido do artigo. Proceda assim, e ponto final. Há, no entanto, uma exceção: se o nome deste Estado vier especificado, isto é, acompanhado de adjetivo ou de locução adjetiva, a presença do artigo – seja ele definido, seja indefinido – se impõe: Queremos um Mato Grosso forte. Essas repartições faziam parte do antigo Mato Grosso.
Uma vez que Minas Gerais integra a expressão mnemônica – Matos, rogo a santa permissão do ser –, devo usá-lo sem artigo. Igualmente São Paulo. Vamos lá: A capitania de Minas Gerais estava unida à de São Paulo. Diferentemente ocorre com os estados que nessa expressão não se encaixam: Moro na (em + a) Bahia. Ele veio da (de + a) Paraíba. Passei pelo (por + o) Rio de Janeiro.
Alguém poderia objetar: Por que alguns estados batem o pé no uso do artigo, enquanto outros o rejeitam? Isso depende dos gramáticos? Qual nada! Os gramáticos não mandam. Papel deles é registrar os fatos da língua, compilando-os. Cabe ao uso – só a ele – determinar se o artigo é de rigor, obrigatório ou não. Sem a chancela do uso, a indecisão nos assalta, imperando a dúvida.
A afluência de nossos irmãos do Sul – notadamente os gaúchos e os paranaenses – trouxe, em meio a seus guardados, algo entranhado na pele: a cultura e a linguagem próprias do lugar de onde provieram. Lá, acostumados foram a dizer: Sou do Rio Grande do Sul. Moro no Paraná. Somos apaixonados pelo Paraná.
Em aqui chegando, estenderam seu modo de falar, aliás corretíssimo quando em referência a seus estados. Passaram assim a empregar, no respeitante ao novo estado, uma forma de dizer nada apropriada, deixando marcas que nem mesmo a borracha do tempo consegue apagar: Estou morando no Mato Grosso. Andei muito pelo Mato Grosso. Amanhã, iremos para o Mato Grosso.
Os dicionaristas Aurélio e Houaiss – não tenhamos medo de bater-lhes às portas –, no verbete mato-grossense e mato-grossense-do-sul, que também se grafa sul-mato- – grossense, são unânimes: natural de Mato Grosso e natural de Mato Grosso do Sul. Em campo-grandense, não vacilam: relativo a Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul. Cuiabano, por seu turno, é o habitante de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso.
Isto é do povo: se conselho fosse bom, não se dava, vendia. Daqui por diante, engrossemos o exército dos que usam Mato Grosso e Mato Grosso do Sul sem artigo. Não é demais afirmar: os papéis oficiais foram timbrados sem artigo. Seguem a grafia já consagrada: Governo do Estado de Mato Grosso e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. Bastaria isso a comprová-lo.
Ouso martelar na questão central. Você, que é mato- -grossense da gema, diga sem receio: Nasci em Mato Grosso. Quanto a você, que não nasceu aqui mas foi abraçado por esta terra abençoada, não navegue os mares da indecisão. Tomado de certeza, diga: Moro em Mato Grosso. Ou ainda, e melhor: adoro Mato Grosso. Sempre sem o descabido e insosso artigo.
É bem isto: Quem diz que é do Mato Grosso, com certeza não é de Mato Grosso.
Basta!
Professor Germano Aleixo Filho,
Assessor Especial da Presidência do TJMT.
Parabéns,professor Germano!
Sou de Mato Grosso do Sul!
Ilustre Professor Germano, um verdadeiro Mestre, no saber e na humildade ao multiplicar seus conhecimentos.
A língua portuguesa, após o privilégio de ser seu aluno, se tornou mais valiosa e suave em meus dias.
É legal conhecer as regras, mas acho que é válido se comunicar sem ser criticado.
Seria muito bom se os secretários de Estado de Mato Grosso do Sul lessem essa elucidativa matéria. Lendo agora o site agenciadenoticias.ms.gov.br, observo vários “no Mato Grosso do Sul”. Oras, se no cabeçalho do próprio site citado aparece “Governo de Mato Grosso do Sul”, era para os responsáveis pela redação ao menos desconfiarem e se certificarem!